quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pernambucano Roberto Freire banca o fim do Partidão


(Foto: divulgação)
Artigo publicado no Portal 247

Vaidoso, verborrágico e permanentemente mau humorado, o deputado federal Roberto Freire está a um passo de, mais uma vez, usar seu passado de ex-militante e candidato a presidente pelo PCB – o Partido Comunista Brasileiro – para contemplar interesses do PSDB.

Num movimento pessoal, não acompanhado nem mesmo pelo DEM do conservador de quatro costados senador Agripino Maia, Freire ingressa na tarde desta terça-feira 6, em Brasília, com representação na Procuradoria Geral da República por uma investigação formal contra o ex-presidente Lula. Ele quer que os promotores e todo o aparato sob a chefia de Roberto Gurgel tomem como base os disparos verbais do publicitário Marcos Valério feitos a ainda não se sabe exatamente quem, mas que foram replicados pela revista Veja, em dois textos de capa, para atalhar a carreira do ex-presidente num labirínto jurídico-policial que poderá ser aberto na forma de processo judicial.

Ao lado de figuras carimbadas de seu partido, o Freire que marchará rumo à PGR, certamente com boa cobertura de mídia, é mais um pendurado nas máquinas de benefícios da Prefeitura de São Paulo, do aliado Gilberto Kassab, do PSD, e do governo paulista, comandado pelo tucano Geraldo Alckmin. Mês sim, mês sim, o deputado nascido em Pernambuco que deve sua última eleição a José Serra, que o fez mudar o domícilio eleitoral para São Paulo para uma tentativa bem sucedida de revitalizar sua decliante carreira em seu Estado natal, busca no guichê da estatal paulistana SPTuris um jeton de R$ 12 mil pela participação em uma reunião mensal no conselho. O mesmo procedimento, em estatais do governo paulista, beneficia duas outras figuras carimbadas do PPS de Freire, a ex-candidata a prefeita Soninha Francine (Sabesp) e o ex-ministro Raul Jungmann (CET).

Não pelo seu presente de linha auxiliar do PSDB, mas por seu passado de quadro do PCB, Freire dará hoje, sem dúvida, mais uma grande contribuição para sepultar, ainda uma vez, e da pior maneira, o velho partidão de ícones como Luis Carlos Prestes e Gregório Bezerra. É claro que haverá alguém para dizer que os comunistas, personificados em seu ex-candidato a presidente, atuaram mais uma vez contra os interesses populares.

Em 1992, num congresso realizado na Câmara Municipal de São Paulo, Freire aproveitou-se da fragilidade da legenda para comandar a sua dissolução e levar a maior parte de suas poucas bases para o ali criado PPS. No entanto, sempre que pode, exalta o passado de sua velha agremiação. No PCB, Freire nunca adquiriu a confiança de seus correligionários para chegar ao Comitê Central. Foi vereador em Recife, eleito pelo MDB, quando o Partidão estava com toda a sua direção no exílio. Na volta, com a anistia, comunistas como o histórico Gregório Bezerra atuaram para que Freire chegasse à Câmara dos Deputados, onde deveria, mesmo com a legenda na clandestinidade, atuar pelos interesses do grupo que lhe ofereceu apoio político em troca de lealdade. Como se vê hoje, quando toma a linha de frente no ataque a Lula – uma liderança surgida da mesma classe operária da qual o PCB se originou --, Freire aceitou o apoio, mas não o pagou com lealdade.

No melhor estilo da UDN dos anos 1950, cuja fachada de moralidade deu grande contribuição para o golpe militar de 1964, Freire tenta, com a ida à PGR, escrever o primeiro capítulo de um roteiro semelhante. Ele sabe que o seu PPS não tem nem filiados nem história suficientes para liderar marchas de famílias contra Lula, mas igualmente avalia que a aposta numa caçada jurídica de tipo kafkiana ao líder político mais popular da história do Brasil – sem provas concretas e baseada na palavra de um condenado pelo STF – irá render a ele e seu partido largos espaços na mídia.

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