sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Seca ameaça tirar o brilho do centenário de Gonzagão em Exu



















Exu, a 617 km do Recife, se rende às homenagens a Luiz Gonzaga, seu filho mais ilustre, num cenário de apreensão. Diante da maior seca dos últimos 50 anos, a grande festa pode ser comprometida pelo transtorno e a inconveniência da falta de água. A única esperança que resta é torcer pela chegada das chuvas.
Hoje, a população está sendo abastecida por carros pipas, porque a água disponibilizada pela Compesa sumiu das torneiras. A água dos pipas é imprópria para o consumo. A de beber, só comprando a particulares num comércio que virou lucrativos para alguns.

















Daniel Ferreira da Silva, 19 anos, e Danilo Moreira da Cruz, 14 anos, deixaram a labuta na roça para viverem do comércio da água. Compram a carregada a R$ 2 na cacimba do Vavá, na beira do rio Brígida, também famoso pelas canções de Gonzagão, e repassam à clientela por R$ 8. “Dá pra gente fazer uma média de R$ 80 por dia”, admite Daniel.
Ele e o sócio Danilo têm concorrência acirrada. No vai e vem incessante pelas ruas da cidade é possível se deparar com vários carroceiros pegando água na mesma fonte e vendendo o tonel pelo mesmo valor. Caminhões pipas do Exército e do IPA retiram a água, esta apenas para os afazeres domésticos, de outras duas fontes.

















Exu tem, hoje, 26 carros pipas, da Operação Seca, mantida pelo Exército, e do IPA. Cada pipeiro assina um contrato em torno de R$ 6 mil por mês para levar água aos moradores da zona rural e distritos. Sobrinho de Luiz Gonzaga, o sanfoneiro e cantor Joquinha Gonzaga teme pelo sucesso da festa em homenagem aos 100 anos do tio famoso.
Entre os dias 11 e 16 de dezembro, Exu vai receber celebridades da MPB nacional, como Elba Ramalho, Gilberto Gil e Fagner. A cidade só dispõe de um hotel, que hoje está abastecido por um poço artesiano. Para comportar tanta gente e evitar vexames, a saída está sendo recorrer ao aluguel de casas.

















Como Olinda no Carnaval, onde as moradias se transformam em hotéis, Exu passará pela mesma experiência. Do contrário, não teria como comportar tanta gente. Segundo Joquinha, a previsão é de atrair 30 mil visitantes por dia ao longo de uma semana. Para isso, serão instalados três palcos, um deles no Museu do Gonzagão.
Pela programação, na fazenda Araripe, onde ainda está preservada a casa em que Luiz Gonzaga nasceu e viveu a sua infância, estava programado outro palco. Mas o prefeito Léo Saraiva, reeleito pela diferença de apenas um voto, resiste em instalar. O que se diz na cidade é que não há justificativas, mas birra política.

















Joquinha, que lembra muito Gonzagão e tem um vozeirão parecido com o dele, reza todos os dias vários pais nossos e ave marias para a chuva chegar antes da festa do centenário do ilustre tio. “Mesmo com seca, a gente sabe que muita gente vem para a festa, que vai entrar para a história como uma das maiores homenagens ao rei, mas estamos na torcida pelas chuvas”, diz.

Não é só Joquinha que perdeu o sono temendo o fracasso da festa por causa dos efeitos da persistente seca. A própria população, também. Apesar de já ter recorrido a anúncios em jornais e na internet, os interessados em locar suas casas para o festão ainda não conseguiram sucesso.

















“O povo está com medo do calor e da seca”, diz Amélia Sampaio, temendo o pior: o agravamento da situação, o que provocaria colapso total no sistema de abastecimento de água, porque as fontes que ainda jorram podem secar de vez. João Antônio da Silva retira em média 200 mil litros de água do cacimbão do Vavá, onde mais 15 carroceiros buscam a sua matéria-prima para sobreviver.
O centenário de Exu, por si só, já mudou a rotina da terra de Gonzagão. Em qualquer parte da cidade são vistos outdoors saudando o filho ilustre, que completaria no dia 13 de dezembro próximo 100 anos de vida. “Tem muita gente esperando por essa festa. Além das atrações, teremos detalhes que vão chamar a atenção, como um bolo de 100 quilos para ser partido em praça pública”, diz Joquinha.

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