quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Morre o ator Jorge Dória, aos 92 anos

RIO - Morreu nesta quarta-feira o ator Jorge Dória, aos 92 anos. Recluso há nove anos em decorrência de um derrame cerebral, o artista estava internado no CTI do Hospital Barra D'Or desde o dia 27 de setembro, por conta de uma pneumonia. No dia 18 de outubro seu estado piorou, e os rins começaram a falhar, segundo relato de sua mulher, Isabel Cristina Gasparin, para o site de Patricia Kogut.
A veia cômica marcou as atuações de Dória, tanto no teatro - onde teve performance elogiada em "A Gaiola das Loucas" (1974), por "suas composições estudadas no lugar de mera exibição de trejeitos afeminados", nas palavras do crítico Yan Michalski - como na TV. Em emissoras como Tupi e Globo, ele encarnou diversos personagens marcantes, como o primeiro Lineu de "A grande família", sucesso entre 1973 e 75.
Dória ajudou "A grande família" a se tornar rapidamente um programa popular ao lado de nomes como Eloisa Mafalda, que vivia a Nenê, Osmar Prado, Luiz Armando Queiroz, Djenane Machado e Paulo Araújo.
- Era um programa diferente, todas as cenas se passavam dentro de um ambiente, como se fosse um teatro. É impressionante o heroísmo daquele personagem na sua dificuldade financeira, tendo que carregar a duras penas aquela família, com todos os problemas, morando naquela casa - disse Dória, em depoimento ao "Memória Globo" em 2002.
Cleyde Yáconis contracenando com Jorge Dória
Cleyde Yáconis contracenando com Jorge Dória Foto: Arquivo
O papel no seriado, que depois de cancelado só seria relançado em 2001 com Marco Nanini e Marieta Severo, deu grande projeção a Dória, que se tornou presença constante nas novelas e programas de humor da TV. Entre os seus trabalhos mais marcantes estão o de João Brandão na novela "Champagne" (1983), o milionário golpista Herbert Alvaray de "Brega & chique" (1987), o conselheiro real Vanoli Berval em "Que rei sou eu?" (1989) e o implicante aposentado Emilio Castro em "Meu bem, meu mal" (1990), novela em que formou uma marcante dupla cômica com Zilda Cardoso. Como Emilio, Dória era o inquilino de um apartamento cuja proprietária era Dona Elza, e os dois viviam brigando.
- De todas as novelas em que trabalhei, "Que rei sou eu?" é a que o público lembrava com mais saudades - lembrou Dória na mesma entrevista para a Globo.
Antes do sucesso televisivo, Dória passou pelo teatro e pelo cinema. Na década de 1940, estreou nos palcos atuando pela Companhia de Eva Todor e Luis Iglesias. No cinema, estreou em um papel coadjuvante no filme "Mãe" (1948), de Teófilo de Barros Filho. No mesmo ano, participou de "Inconfidência Mineira", de Carmen Santos.
O casamento de Dória com a arte não tinha mais volta. O carioca de Vila Isabel, que tivera uma educação rígida e cuja família sonhara que ele se tornasse funcionário público, só abraçou a sua verdadeira vocação após a morte do pai. E desde então não parou mais. Sorte dos fãs do trabalho do ator, que em 1951 atuou na comédia "As pernas da herdeira". Ali, Jorge Pires Ferreira já adotara o sobrenome Dória em homenagem ao amigo Leoni Dória Machado, com quem escrevera a peça. O trabalho foi bem-sucedido e ficou cinco anos em cartaz.
Jorge Dória em
Jorge Dória em "Que rei sou eu?" Foto: CEDOC Rede Globo
No cinema, o primeiro grande sucesso veio em 1962, quando interpretou um delegado linha-dura em "Assalto ao trem pagador", de Roberto Faria. O filme representou o Brasil no Festival de Veneza daquele ano e ganhou diversos prêmios no país. Três anos depois, atuou em "O Beijo", filme de Flávio Tambellini, baseado na peça "O beijo no asfalto", de Nelson Rodrigues. Na tela, contracenou com nomes como Reginaldo Faria e Norma Blum.
Sua estreia na televisão foi em 1970, na novela "E nós, aonde vamos?", da extinta TV Tupi. Transferiu-se para a Globo três anos depois. Depois de "A grande família" fez a sua primeira novela na TV em 1975. Ele era o vigarista Ambrósio de "O noviço", adaptação de Mário Lago para a peça de Martins Pena. Voltou à Tupi para atuar em "Aritana", de Ivani Ribeiro. O retorno à Globo seria em 1978 para protagonizar a novela "O pulo do gato". Na trama, ele era o playboy mulherengo Bubby Mariano.
Paralelo aos trabalhos na TV, estrelou a já citada "A Gaiola das Loucas", de Jean Poiret, com adaptação e direção de João Bethencourt. No espetáculo, ele vivia o homossexual George. Outros êxitos nos palcos foram "O avarento", "Escola de mulheres", "A presidenta" e "A morte do caixeiro viajante".
Com o golpe militar, a produção cinematográfica brasileira praticamente paralisou. Veio a era das pornochanchadas e Dória participou de várias: "Como é boa a nossa empregada" (1973), de Victor Di Mello; "Oh, que delícia de patrão!" (1974), de Alberto Pieralise; e "Com as calças na mão" (1975), de Carlos Mossy. Outro sucesso no cinema do qual participou foi "A dama da lotação", de Neville de Almeida.
Na década de 1990, participou de diversas novelas sempre tendo sucesso com seus papéis cômicos. É uma época em que se destacaram personagens como o interesseiro Ângelo Pietro, em "Zazá" (1997), de Lauro César Muniz, e Rodolfo "Ruddy" Reis, em "Era uma vez..." (1998), de Walther Negrão. Em "Suave veneno" (1999), de Aguinaldo Silva, roubou a cena com o carismático Genival, pai do vidente charlatão Uálber (Diogo Vilela).
Sua última novela foi "Malhação", em 2001. Fez ainda participações em programas humorísticos como "Sai de baixo", "Os normais" e "Zorra total", onde fez sucesso no papel de um pai desgostoso com o filho homossexual que sempre repetia o bordão: "Onde foi que eu errei?". No cinema, ainda atuaria em "O homem que copiava" (2002), de Jorge Furtado, e "O homem do ano" (2003), de José Henrique Fonseca. Ao longo da carreira participou de 28 novelas e 22 filmes.


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