sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Jovens de classe média se articulam para apoiar rolezinhos

Em São Paulo houve corre-corre e confusão no Shopping Itaquera, durante reunião de jovens nesta semana. Foto: Robson Ventura/Folhapress
Em São Paulo houve corre-corre e confusão no Shopping Itaquera, durante reunião de jovens nesta semana. Foto: Robson Ventura/Folhapress
Leonardo Bulhões, 24 anos, filho de funcionários públicos e estudante de música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), frequenta centros de compra quando precisa. No fim de semana 25 e 26, porém, sairá de casa com os amigos para um “rolezinho”. Os encontros organizados via rede social no Sudeste por jovens de classe baixa sob o pretexto do direito ao lazer chegará ao Recife trocando os bonés, bermudas e cabelos pintados pelas vestes da classe média ativista que protagonizou os protestos do ano passado.

Três páginas no Facebook anunciam “rolezinhos” na capital pernambucana. O maior dos eventos está marcado para acontecer no RioMar, no próximo dia 25, às 16h, e já reúne mais de 890 confirmações. A maioria delas é de pessoas como Leonardo Bulhões. “Vivemos em um país que tenta esconder o racismo. Os rolezinhos na grande parte do país são diferentes dos de São Paulo. Estamos fazendo o ato em solidariedade aos que sofreram repressão policial”, comentou o estudante, que pretende ir também ao encontro marcado para acontecer no dia 26, no Shopping Recife, em Boa Viagem, às 16h. No Tacaruna, em Olinda, haverá um rolezinho contra a homofobia, no dia 24, uma sexta-feira, às 17h.

O professor de sociologia da UFPE Ricardo Santiago explica que a participação de um extrato social diferente nos rolezinhos modifica o caráter do encontro. “Ele não é político por princípio, exceto pelo fato de ser uma afirmação de ocupação de espaço. Ao ganhar proporção em função da violência policial, ganha tom político, reivindicatório, contrário à ideia de discriminação”, comentou ele, acrescentando que é possível ainda encontrar similaridade com os protestos realizados no segundo semestre de 2013. “A ação da polícia detonou um processo que extrapolou o próprio movimento. Quando se reprime, gera solidariedade.”
Os universitários Leonardo Bulhões e Janaína Oliveira irão aos encontros por aqui. Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
Os universitários Leonardo Bulhões e Janaína Oliveira irão aos encontros por aqui. Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

O advogado Pedro Josephi, conhecido por participar ativamente dos movimentos no ano passado, também confirmou presença. “Não queremos nos colocar como jovem de classe baixa, mas problematizar a desigualdade social, a falta de espaços públicos, o direito à cidade”, contou. A universitária Janaína Oliveira, 23, que estuda ciências sociais na UFPE, também já confirmou presença. “Quero combater o racismo e a higienização social”, diz

O jornalista João Paulo Guma, 29, que também vai ao encontro, acredita em bipolarização do passeio. “Há os que estão enxergando o rolezinho como uma ação política e há os verdadeiros “rolezeiros”, que vão se aglomerar, se divertir, entoar seus mantras de periferia”, defende. O sociólogo da Universidade Católica de Pernambuco Nadilson Silva não acredita em segregação. “O preconceito de classe em sido diluído entre os jovens, com o maior acesso à educação e a mistura de culturas”, pontua.

entrevista >> Erick Miller, 19 anos, estudante secundarista e criador dos rolezinho locais

“Tem um grupo que quer politizar o evento”

O que te motivou a realizar rolezinhos nos shoppings do Recife?
Os ocorridos em São Paulo foram o motivo para pensar em realizar esses eventos aqui. Acho uma ótima iniciativa pra marcar encontros com pessoas desconhecidas, fazer novas amizades, curtir e se divertir.

Como você vê a participação de grupos de classe média e a politização do encontro?
O evento está meio dividido entre pessoas que querem apenas curtir e outras que querem politizar o evento. Eu não vejo nenhum problema. Mas preferiria que ficasse apenas como uma curtição.

Você costuma frequentar o shopping com os seus amigos?
Sim, sempre que posso vou, mas não para consumir. Geralmente só vou com os amigos ao cinema. Geralmente vou ao Shopping Guararapes, porque moro em Jaboatão. Às vezes vou ao Shopping Recife. Recentemente passei a ir ao RioMar.

O que o rolezinho terá de diferente de quando você vai com os amigos?
Esse evento vai ser totalmente diferente porque tem mais pessoas. Vai ser algo novo, pelo menos para mim. Eu acho a ideia muito legal de encontrar pessoas desconhecidas, nos conhecermos e nos divertirmos. Essa é a ideia do rolezinho, só que infelizmente entre as pessoas de bem também tem as pessoas de mal, que só querem fazer baderna. Por causa disso, acabou ocorrendo uma banalização.

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