segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Lula: ‘A gente precisa voltar a ter orgulho do PT’


Lula quer reacender a autoestima dos petistas. Neste sábado (14), discursou para militantes de mostruário num ato político promovido pelo PT no centro de São Paulo. “A gente precisa voltar a ter orgulho do nosso partido. Vamos voltar a usar a nossa camiseta vermelha. A gente não tem que ter vergonha.” Ele disse isso num instante em que as ruas de junho voltaram para casa e o STF prepara-se para enviar o processo do mensalão para um lugar muito distante –“a eternidade”, segundo Joaquim Barbosa, presidente do tribunal.
Lula abriu o discurso rendendo homenagens ao amigo e ex-ministro Luiz Gushiken, que morreu depois de lutar durante uma década contra o câncer. Repetiu uma frase que Gushiken costumava dizer aos petistas que o visitavam no hospital: “É preciso recuperar o nosso partido.” O PT não pode servir apenas para disputar eleições, Lula aditou. “Ele foi feito sobretudo para a gente estar 24 horas por dia ajudando a organizar a luta do povo brasileiro.”
O orador recordou que as ruas se encheram em junho. Bandeiras e símbolos partidários foram banidos dos protestos. Mas Lula acha que não interessa saber se os manifestantes gostavam ou não do PT. O que importa, disse ele, é que “o povo foi às ruas clamar por melhores condições de vida.” Para Lula, o petismo “precisa aprender uma lição: o partido é que poderia estar puxando esses movimentos.”
O pavio que acendeu o asfalto foram as passagens dos transportes públicos em São Paulo, cidade gerida pelo petista Fernando Haddad. Dilma Rousseff perdeu um pedaço expressivo de sua popularidade. Mas Lula disse à militância que as manifestações foram contra qualquer coisa, menos as autoridades vinculadas ao PT.
“Não é contra o nosso Fernando Haddad, não é contra nossa presidenta Dilma, não é contra o Lula… É a favor deles, a favor do povo brasileiro.” Acha que, em vez de reclamar, o PT deve mostrar a cara e se integrar: “Se tem um partido nesse país que não tem que se esconder ou ter medo de povo na ruas, esse partido é o PT, porque foi nas ruas que ele nasceu.” Mais um pouco e Lula esquece que o petismo está no poder federal há dez anos e vira um anarquista black bloc.
Depois de muitos volteios retóricos, Lula encaminhou o discurso para o seu objetivo central: a candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo. Pela lei, a campanha de 2014 só começa depois das convenções partidárias de junho do ano que vem. Mas Lula já aprendeu que as multas da Justiça Eleitoral, por mixurucas, compensam o risco. Por isso, fez piada das proibições.
“Não posso falar de eleição porque já fui multado em R$ 15 mil, e o PT não pode pagar. Tem que pagar do meu bolso.” A multidão, já habituada às mumunhas de Lula, pôs-se a gritar o nome do candidato como se estivesse ensaiada: “Padilha, Padilha, Padilha…” Ao retomar a palavra, Lula apontou a língua na direção do tucanato. “Esse Estado precisa recuperar sua autoestima, a sua graça. Esse Estado é muito importante para ser governado por um passarinho que tem voo curto e bico muito longo.”
Referindo-se a uma hipotética parceria entre o prefeito Haddad e o futuro governador Padilha, Lula disse que São Paulo “já merece uma constelação” de estrelas do PT “Vocês imaginam uma combinação entre o PT governando o Estado e o Haddad governando a prefeitura?”
Lula não esmiuçou as imagens que lhe vêm à mente. Mas ele parece gostar do que antevê. Imagina ser possível “fazer em São Paulo igual ou mais do que a gente está fazendo no Brasil.” O país do discurso de Lula é formidável. Se ele já tivesse se materializado em algum pedaço do mapa brasileiro a rapaziada talvez nem precisasse sair às ruas para obter o Éden.
Sem citar o mensalão, Lula roçou o alambrado do escândalo ao fazer a defesa de Luiz Guchiken. Incluído no processo sob a acusação de ter cometido o crime de peculato, o “Chininha”, como Lula o chamava, foi retirado do banco dos réus a pedido do Ministério Pública Federal.” Alegou-se falta de provas.
Lula espetou o suplício do morto na conta dos jornalistas. “Gushiken foi uma das vítimas da mentira de uma parte da imprensa desse país”, disse. “Eu sei o que o companheiro Gushiken sofreu com as infâmias que levantaram contra ele. Muitas vezes o irresponsável que levanta uma acusação sem ter prova não leva em conta a história da pessoa, não leva em conta que a pessoa tem mulher, tem filho… A imprensa que o acusou deveria ter vergonha na cara e publicar uma manchete amanhã pedindo desculpas ao Gushiken.”
Como testemunho do seu apreço pelo amigo morto, esse trecho do discurso de Lula tem muito valor. Como compromisso com a verdade, o lero-lero não faz nexo. Chama-se Henrique Pizzolato o petista responsável por empurrar Gushiken dentro da tempestade do mensalão.
Diretor de Marketing do Banco do Brasil na época do escândalo, Pizzolato firmou uma série de contratos mutretados com agências de publicidade de Marcos Valério, o provedor das arcas petistas. Pilhado, disse em depoimento à CPI dos Correios que Gushiken, à época ministro responsável pela publicidade governamental, autorizara todos os contratos. Ou seja, se alguém tem que ajoelhar no milho é o petista Pizzolato, não a imprensa

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